Design artesanal como meta No estúdio de Guto Lacaz, 50, é possível encontrar artes-finais de logotipos em paste-up. Seus projetos conservam o charme de quem aprendeu a pensar com lápis e papel, sem perder a qualidade técnica e a precisão que os trabalhos gráficos têm atualmente. Guto Lacaz é paulistano e formou-se em arquitetura, em 1974, pela Faculdade de Arquitetura de São José dos Campos. Começou a vida profissional fazendo ilustrações para o Jornal da Tarde paulistano e editoras de livros. Ostenta dois prêmios Abril de Jornalismo em Ilustração. Os primeiros projetos de Lacaz aconteceram de forma lenta e quase amadora: “Eu tinha alguns amigos que estavam montando empresas e fui fazer o logotipo para eles”. Lacaz faz parte de uma geração de profissionais que se tornaram designers por destino e vocação. “Até eu me formar, não se ouvia falar em escolas de design gráfico, só a ESDI (Escola Superior de Desenho Industrial) do Rio. As pessoas que faziam gráfica, ou faziam de uma forma autodidata ou vinham da arquitetura, um curso que oferece várias especialidades”, justifica. Ele conta que, na época em que estudou arquitetura, o currículo abrangia cinema, fotografia, música, desenho artístico, comunicação visual, desenho industrial, arquitetura e planejamento urbano. “Você podia desenhar uma cidade ou uma colherzinha de café. O estudante tinha capacidade de projetar em qualquer área da criação”. Como não apareceu trabalho em arquitetura e gostava de desenhar, Lacaz acabou entrando para a área gráfica. Entre outros trabalhos, ele fez o livro Personagens, de Vânia Toledo, e refez o projeto gráfico da revista Junguiana, da Sociedade Brasileira de Psicologia Analítica, quebrando a tradição do texto acadêmico com imagens. A Junguiana foi considerada a revista mais bonita em um congresso internacional. “Sempre tentei dar uma solução original para as coisas. Gosto de fazer livros para criança, com desenhos tipo cartoon. Só que faço pouco, gostaria de fazer mais”. Lacaz ensina que sempre começa a desenhar livremente. A maioria de seus clientes são diretos, sem o intermédio de uma agência, o que, do ponto de vista comercial, é ótimo. Às vezes, só o nome da empresa basta. Outras, ele gosta de visitar e de saber o que a empresa faz. “Depende do problema”. Acontece com freqüência de os trabalhos intermediados por agências não darem certo. “Eu gosto de ver a pessoa, saber o que ela quer. Rabisco o papel até aparecer um conjunto de idéias”. Tipografia é um capítulo à parte na história de Lacaz. “Acontece de você fazer uma marca, virar o catálogo inteiro e não achar uma fonte que encaixe direito. Então você acaba criando uma”, diz. Ele desenhou a fonte Nardja Zulpério, para a peça teatral homônima de Regina Casé, influenciado por Rafic Farah. A fonte Nikabob, também sua, segue um tipo conhecido como Streamline, inspirado nos automóveis da década de 1950, que tinha uma linha embaixo da palavra ligando uma letra à outra. “Esse é todo um passado que foi feito na base do compasso”, esclarece. Lacaz adora desenhar fontes, mas diz não ter a articulação necessária para lucrar com isso. “Tem coisas que eu gostaria de fazer, mas precisaria de alguém que fizesse a parte burocrática por mim. Se eu tiver de descobrir o endereço do cara que faz fonte, eu já não quero mais desenhar”, confessa. Lacaz se incomoda com a pouca diversidade dos trabalhos na área; para ele todos estão com a mesma cara. Nesse ponto, atribui a culpa ao computador. “Um ou outro faz bem feito, mas a maioria copia a solução e vira um estereótipo”. Lacaz vê muita tipografia encavalada em anúncios e diagramação de revistas. Também há muita informação sobreposta sem um conceito, o que dificulta a leitura. “Sou a favor de ter uma idéia que comande o trabalho, mesmo que ela não fique clara para quem vai ver, mas que o designer ao desenhar saiba justificar aquilo que fez”, finaliza. Vanessa Guerreiro |